(...)
“Fechou os olhos, tentando
adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele
separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para
desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde
sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e
dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento
sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer
coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. e no entanto ali
estava,a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela,a mulher
amada,aquela que ele abençoara como os seus beijos e agasalhara nos instantes
do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu
espaço próprio, perdia em suas cogitações próprias – um ser desligado dele pelo
limite existente entre todas as coisas criadas.
De súbito, sentindo que ia
explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...”
Separação, Vinicius de Moraes, Poesia Completa e Prosa, RJ, Nova
Aguilar, RJ, 1976.
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