ENCONTRO
Carlos Drummond de Andrade
Meu pai perdi no tempo e ganho em sonho.
Se a noite me atribui poder de fuga,
Sinto logo meu pai e nele ponho
O olhar, lendo-lhe a face, ruga a ruga.
Está morto, que importa? Inda madruga
E seu rosto, nem triste nem risonho,
É o rosto antigo, o mesmo. E não enxuga
Suor algum, na calma de meu sonho.
Oh meu pai arquiteto e fazendeiro!
Faz casas de silêncio, e suas roças
De cinza estão maduras, orvalhadas
Por um rio que corre o tempo inteiro,
E corre além do tempo, enquanto as nossas
Murcham num sopro fontes represadas.
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