
É isso mesmo, vocês compreenderam bem: vamos
realizar um sarau, ouvindo Chico Buarque, tomando chá e escolhendo as utilidades
domésticas (agora já são quase duas centenas) que lhes interessarem e pagando o
quanto quiserem. Exatamente: o que quiserem pagar. Um real? Pois não, pode levar. (aqui, a palavra real nos fascina). Todos os objetos são novos e
de primeiríssima qualidade – cristais, prata, porcelana, objetos de arte, etc. –
e foram doados ao clube. Vamos transformá-los em livros.
Aproveitando a oportunidade, voltamos a Giorgio
Agamben, em PROFANAÇÕES, uma nossa inspiração nesses dias e nesses caminhos:
Na sua
forma extrema o capitalismo é uma religião que realiza a pura forma de separação do sagrado, sem mais nada a separar. Uma profanação absoluta coincide com uma
consagração igualmente vazia e integral. Na mercadoria, a consagração faz parte
da própria forma do objeto, que se transforma em fetiche inapreensível.
Assim, tudo, como mercadoria, – também o corpo humano, a sexualidade, a
linguagem – está deslocado para a condição de fetiche inapreensível, na qual o
uso durável é impossível. Esta esfera é o consumo. O consumo
passa a ser a esfera onde a consagração das coisas é consumada. As
coisas tornam-se reverenciáveis por si mesmas, sagradas e veneráveis e acima do
universo do humano. Qual a alternativa? Fazer outro uso das coisas,
diz Agamben. Estabelecer uma forma de relacionamento social que elimine a
separação instaurada pelo capitalismo e que restitua ao domínio humano o que o
sistema aliena para o plano do sagrado. Numa palavra, é preciso profanar.
A profanação do ‘Improfanável’ é a tarefa política da geração que vem”, afirma
Agamben. E as revoluções do século XXI deverão ter um caráter lúdico e
profanatório. (tradução livre)
