
Estudou e utilizou a filosofia
grega, considerando-a auxiliar na
conquista do conhecimento, pois não há nada na filosofia que não esteja
contaminado. Para ele a fonte excelente do saber, à qual consagrou sua
existência, é a Sagrada Escritura. A filosofia é apenas um instrumento de
trabalho; em seu método estão elementos do platonismo e estoicismo. Começava
pela dialética, para acostumar seus discípulos na prática do raciocínio; em
seguida passava à Física, explicando e classificando cada um dos seres e
analisando os primeiros elementos. Junto com a Física estudava-se geometria e
astronomia, ‘para elevar-se às sublimidades’. Em terceiro lugar, estudava-se
Ética, para se formar o caráter; e nisto Orígenes não só falava com palavras
mas, sobretudo, confirmava sua doutrina
com obras. Depois da filosofia, examinava detidamente frases e opiniões dos
poetas e filósofos antigos com um critério amplo. Só depois dessa preparação
enciclopédica, entrava na explicação da Sagrada Escritura, que, para Orígenes,
constituía a coroação de todo o edifício do saber.
O autor é um dos principais
veículos de incorporação das teses platônicas ao pensamento cristão. O seu
esquema é dominado pela fórmula estóica. Há um mundo duplo, ou uma dupla série
de realidades, umas visíveis e outras invisíveis e inteligíveis. É necessário
começar pelas coisas sensíveis, mas não se deter e passar às inteligíveis.
Bebendo no platonismo, adota a divisão tripartite do homem, corpo, alma e
espírito, aos quais correspondem três graus de conhecimento, que são a fé, a
gnosis e a sabedoria, ou a contemplação. A sabedoria divina, que é distinta da
fé, é o primeiro dos que se chamam carismas de Deus. Depois dela vem o segundo,
chamado gnosis e os que o possuem tem um conhecimento exato dessas coisas. O
terceiro é a fé, pois é necessário que inclusive os mais simples se salvem,
contanto que sejam piedosos no possível.
Na Sagrada Escritura há 3
sentidos: um somático ou literal; outro, o psíquico ou moral e outro, o
penumático ou espiritual. Aos simples, lhes basta com a fé, o sentido óbvio,
histórico ou literal. Outros, mais perfeitos, alcançam a gnosis, penetrando em
seu sentido com a ajuda da alegoria. Mas o grau mai perfeito é o dos que alcançam
o sentido espiritual, chegando à contemplação, que é uma antecipação da futura
bem-aventurança. A gnosis perfeita só pode ser alcançada depois a morte. A
contraposição dos dois mundos, visível e invisível, leva Orígenes a imaginar
uma dupla ordem de sentidos para conhecê-los. Há uns sentidos materiais e
outros espirituais que são os que percebem as realidades divinas. Somente os
perfeitos são capazes de exercitar estes sentidos espirituais. Os fiéis comuns
os têm como que atrofiados. Seu objeto são os bens superiores que estão acima
do homem, o espiritual, o que é melhor que os corpos.
Orígenes foi antes de tudo um
exegeta; estudou hebreu para ler textos no original; no Hexaplas faz um estudo
comparado de versões diversas da Sagrada Escritura. Ilustrou o texto com escólios, breves notas sobre
gramática, cronologia, geografia e história, para esclarecer difíceis pontos
concretos.
Os Comentários consistiam de uma
explicação mais ampla de quase todos os livros da Bíblia. Cultivou a pregação
para divulgar o conteúdo dogmático, moral e místico da Escritura. Daí, procedem
numerosos Homilias.
Orígenes se esforçou no sentido
de uma leitura crítica da Bíblia, para encontrar o texto mais exato, mediante o
confronto das versões e variantes, método este, que tinha precedentes entres os
sábios alexandrinos do Museu. Quando entende que não se pode ater à letra do
texto devido a sentidos antropomórficos, indignos de Deus, ele utiliza a
alegoria, que também havia empregada pelos estóicos, pelos escoliastas de
Homero, por Filon. Seu empenho é encontrar o sentido espiritual além da letra
do texto. Orígenes foi reconhecido como homem de sobriedade e discreto
equilíbrio. (CONTINUA)

Nenhum comentário:
Postar um comentário